Quem é:
Nasceu em São Paulo, SP, em 1912. Faleceu em São Paulo, em 1985. Em 1932 alistou-se como combatente na Revolução Constitucionalista. Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, mas não exerceu a profissão. Foi funcionário público, jornalista, professor de português, poeta, cronista e crítico. Seu interesse pelo haicai iniciou-se no ano de 1934, mas somente em 1937, convidado a integrar o Grêmio Cultural Brasileiro-Nipônico e conhecendo o haicaísta H. Masuda Goga é que se iniciou decisivamente no haicai. Em 1939, publicou Roteiro Lírico, um livro de haicais. Em 1940 foi convidado a participar de uma caravana de intercâmbio cultural rumo ao Japão, formada por estudantes e recém-formados da Universidade de São Paulo. Lá entrou em contato com o mestre Kyoshi Takahama, obtendo muitas informações sobre o haicai tradicional japonês e tendo alguns de seus haicais traduzidos por ele. De volta ao Brasil, torna-se grande difusor da cultura nipônica. Neste ano publicou “Do Haikai em Seu Louvor”, um estudo sobre o haicai japonês. Jorge Fonseca Jr. foi, de 1937 a 1944, redator-chefe do Anuário do Oeste Brasileiro, onde foram divulgados haicais em português de diversos autores. Trabalhou também em jornais da comunidade nipo-brasileira em São Paulo. Conhecedor profundo da vida e obra do exotista português Wenceslau de Moraes, publicou, em 1980, Wenceslau de Moraes e Outras Evocações. Deixou um livro inédito de poemas, “Brasa Dormida”, com uma seção de haicais e tancas. (Fonte de biografia, imagem e haicais, aqui!).
Poemas (haicais):
(Haicais em “Roteiro Lírico [1939]”)
Ah! estas flores de ouro,
que caem do ipê, são brinquedos
pr’as criancinhas pobres…
Para o sol que morre,
o algodoal estende, grato,
um lençol imenso…
Bem-te-vis cantando
na festa de luz e cores!…
Falta-me luz na alma…
Que tarde ventosa!…
Ah! nem tufão leva esta árvore
que o cipó enlaçou!…
Bananal… calor…
Tropicalissimamente,
vou chegando a Santos…
Este abacateiro
acende, ante a luz do luar,
suas suaves lâmpadas…
Ah! o chimarrão quente!
O frio forte dos pampas
foge um pouco assim!…
Estes girassois
chamariam alto o sol,
se tivessem voz!
O sabiá cantando,
parece que esta saudade
foge-me um pouquinho…
Noite… praia… Nua,
tesa, a palmeira se entrega
ao clarão do luar…
Nesta catedral,
quando arde o sol, toda tarde,
sangra este vitral…
Velame colhido,
lá dorme, na noite enorme,
num porto esquecido…
(Haicais em “Brasa Dormida [inédito])
Noite úmida e fria…
No chão da praça deserta,
cai do ramo a flor…
Escurece rápido.
Insistente, a corruíra
cisca no quintal…
Frias, escorridas,
as ramagens do chorão,
no poço da noite…
A chuva parou.
Um leve vapor, do chão,
sobe e, ao sol, se irisa…
Ouro, prata e azul…
E o vento fresco soprando
na tarde que cai…
A folha caída,
pousada, seca, num galho,
como um passarinho…
Ufa! que parece
que a gente vai caminhando
com o sol às costas!…
Ao sol da manhã,
as andorinhas, no fio,
fazem a “toilette”…
Meiguice do sol
no ninho do tico-tico
piando no crepúsculo…
Fundo de quintal…
Silêncio. No velho muro,
uns cacos de sol…
Múrmura e ligeira,
por sobre as flores da serra,
vai a água entre as pedras…